Havia uma garota sentada embaixo das arquibancadas do ginásio. Uma garota invisível, que ninguém via, ninguém conhecia, uma garota com quem ninguém se importava. Uma garota calada, de olhos tristes, que carregava um semblante de aceitação, de alguém que conhece o fim da própria história. Era uma garota invisível.
Havia um garoto passando pelo ginásio naquele dia. Um garoto cheio de luz, de olhos brilhantes e sorriso caloroso. Um garoto que, muito além de ser alguém com quem as pessoas se importavam, era alguém que se importava com as pessoas. Um garoto iluminado.
E no meio de tudo isso, havia a chuva. Ela, como de costume, estava sentada embaixo das arquibancadas, os olhos perdendo-se no vazio de um caderno. Ele, apressado, passou correndo pela quadra, tentando encontrar abrigo antes que a chuva chegasse. Ela se levantou. Ele correu. Ela tentou fugir da chuva. Ele a encontrou. Ela esbarrou nele. Ele a olhou. Ela parou de respirar por alguns segundos. Ele a admirou. Ela tornou-se visível pela primeira vez em sua vida. Ele se apaixonou. Ela também. Ele se apaixonou pelo fato de ela ser invisível. Ela se apaixonou pela luz que ele tinha. A invisibilidade era um dom. A luz era só uma capacidade.
O tempo passou e por muitos dias ele voltou àquela quadra. Ela esperava embaixo das arquibancadas, imaginando se ele viria, a que horas viria, pensando se seus olhos brilhariam como na primeira vez em que se viram. E todos os dias ele aparecia, de fato. Ela, feliz, chegou a sorrir. Ele a ouviu dar risada, a viu esconder a felicidade atrás do rubor, a viu olhar pra ele com ternura. Ela o viu observá-la, o viu pensando em nada, o viu apaixonando-se mais e mais a cada dia. E se apaixonou ainda mais por ele.
Os dias continuaram passando, aquela garota invisível e aquele garoto iluminado amaram-se com todas as suas forças e viveram a linda história que estava escrita para eles. Ele se declarou, ela ouviu, ele a beijou, ela assustou-se. Ele acalmou-a, ela sorriu, ele a amou, ela o amou de volta. Juntos, foram felizes. Mas não para sempre. Não porque o amor acabou. Não porque eram diferentes. Não foram felizes para sempre porque ela morreu. E o pra sempre acabou. Acabou quando ele estava caminhando pela rua e veio um carro, e então ela jogou-se na frente dele para poder salvá-lo. Ele sobreviveu. Ela não. Ele chorou de desespero. Ela chorou de tristeza. Não porque estava morrendo. Porque estava deixando-o.
- Você não pode morrer! – o desespero estava presente em sua voz e em seu choro descontrolado.
Mas ela morreu. Morreu bem quando se apaixonou pela primeira e última vez na vida. E morreu invisível, exatamente do jeito que era antes de encontrar seu grande amor.
Ela era invisível, mas o conheceu. Ele tinha luz e então a encontrou. Ela deixou de ser invisível, mas morreu. Ele a viu morrer, e então perdeu toda sua luz. Ficou sem luz pra sempre. E esse sempre não acabou.
“Take a little look at the life of Miss Always Invisible
Look a little harder, right? Really, really want you to put yourself on her shoes…
Take a little look at the face of Miss Always Invisible
Look a little closer and maybe then you’ll see why she waits for the day
When you’ll ask her name…”