sábado, 13 de novembro de 2010

Telefonema


Todos os dias eu ouvia sua voz pelo telefone. Nos falávamos só pra saber se estávamos vivos, com saudades, só pra contar um ao outro o quanto queríamos estar juntos. E os dias que passei recebendo seus telefonemas, todos aqueles dias em que ele me cobrava algo que eu tinha medo – a felicidade -, foram os dias mais felizes da minha vida. Ouvir sua voz forte e rouca do outro lado da linha dizendo que sentia saudades parecia um sonho. Eu sabia tudo sobre ele, o tom da voz para cada estado de humor, o tom em que me disse cada frase desde que nos conhecemos, e também cada frase que me disse. Ele pode não saber anda sobre mim, não lembrar nada, mas eu sei de tudo e tenho tudo na memória. Os melhores dias da minha vida eu passei gostando daquele garoto, e ver isso desaparecer bem diante de mim é simplesmente cruel demais pra aguentar. Ver que quando o telefone toca seu nome não aparece mais, e que quando eu atendo não é sua voz que eu ouço. Isso machuca.
Sem entender bem o que estou fazendo, pego o telefone.

- Alô? – a voz parece duvidar.
- Pode falar agora?
- Claro.
- Só queria ouvir sua voz.
- E o que tem de mais nisso?
- Essa é a última vez. Você pode nem saber, mas quando desligar o telefone, tenho certeza, me conheço bem, vou me afundar no travesseiro e chorar, sabendo que é a última vez que ouço sua voz. Mas eu precisava ouvir só mais uma vez.
- Pra quê?
- Pra ter com o que sonhar, pra ter conforto nos dias cinzas, pra ter força nas incertezas, coragem nos momentos difíceis. Pra lembrar de cada palavra e cada detalhe disso. Pra ter algo em que acreditar. Pra acreditar em mim. Só pra ter sua voz ecoando na minha cabeça.
- E...?
- E eu prometo te amar só até a linha cair... E então você nunca mais terá que se incomodar comigo...

E simplesmente desligo o telefone.

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