domingo, 27 de março de 2011

Eternidade

          
              - Você acredita em eternidade?
             Enquanto sua mente vagava, ouvia essas palavras. Ouvia a pergunta que nunca chegou a responder. Pousou a mão sobre o próprio rosto e o sentiu encharcado por lágrimas. Levando a mão à boca, sentiu o gosto da própria dor. E ela, apenas ela poderia sentir essa dor. Apenas ela sabia o quanto pesava o arrependimento por não ter respondido àquela pergunta, assim como a tantas outras.
             - E onde você está agora? Quão longe pode ir sem deixar meu coração?  - fazia perguntas para si mesma.
             Ela sabia o quanto doía deixá-lo ir embora. Sabia que já não podia alcançá-lo mais. Sua mente rodou por infinitas frases, infinitos momentos, infinitas perguntas. Parou na mesma outra vez.
             - Você acredita em eternidade?
             Sim, ela acreditava. E sabia o quanto a eternidade machucava, o quando destruía tudo que era finito. Porque o amor dela era eterno, mas ela era uma simples e estúpida mortal. Não conseguiu se conter. Saiu correndo e passou pela porta, batendo-a atrás de si. Entrou no elevador e saiu dele tão apressada que sequer reparou na pessoa que passava por ela. E como poderia? Precisava aliviar aquela dor.
            Cruzou a rua e chegou ao parque. Correu pela grama em várias direções. Por fim, jogou-se de joelhos. Não aguentava mais. As lágrimas escorreram por seu rosto tão rapidamente que não era possível perceber o momento em que uma dava lugar à outra. Afundou as mãos na grama gelada. Não aguentava mais. A dor de amá-lo e não poder tê-lo tomava conta de tudo que ela tinha: de seu raciocínio, seus sentimentos, sua maturidade – e que fosse pro espaço sua maturidade! Sem ele não faria o menor sentido.
             - Você pode me ouvir? – murmurou – Onde é que você está? – gritou enlouquecidamente – Eu preciso de você! Inferno! Eu te deixei ir por amo, mas eu preciso de você! A liberdade era a maior prova de amor que eu podia te dar, mas viver sem você não faz o menor sentido – e gritava tudo aquilo pra quem? Pra ninguém? Ninguém a estava escutando. O que ela poderia fazer? Precisava colocar aquela dor para o lado de fora. Precisava gritar, pois as lágrimas não tinham poder expressivo suficiente para suportar aquela dor. – Eu te amo! Onde você está?
             Gritava cada vez mais alto, mas ninguém parecia ouvir. E daí? Precisava dizer tudo aquilo.
            Arrancou a grama com as mãos, com toda a raiva que sentia atirou as pequenas folhas longe.
             - Eu... – perdeu o fôlego – ainda te amo...
             Levantou sem vontade e caminhou em direção ao prédio. Apertou os botões do elevador, que por sinal nunca parecia chegar. Desistiu. Foi pela escada, arrastando os passos e a própria dor a cada degrau.
Enquanto ela subia em direção ao apartamento, uma figura cujas esperanças reviveram ao som de gritos vindos do parque saía do elevador. Ele estava pronto para encontrá-la e acabar com sua dor, tomá-la em seus braços e mostrar-lhe quão bela era a eternidade. Atravessou a rua correndo, mas quando chegou ao parque não havia nada além do vazio.
            Quando ela chegou ao apartamento, voltou à sacada onde estivera antes. Olhou para o parque à sua frente e notou que havia alguém onde ela estivera há instantes. Não pôde ver quem era e não deu importância. Virou as costas e deixou ali sua última tentativa possível. Mal sabia ela que a pessoa no parque era seu amado, aquele por quem ela tanto chamara. Ignorou as lágrimas e contentou-se com a dor, enquanto, no parque, uma voz masculina repetia baixinho, quase num murmúrio:
             - Você acredita em eternidade?

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